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JERUSALEM
Yeurushalaym, em hebreu antigo significa a "Cidade da Paz", a cidade
santificada pelas três religiões monoteístas - judia, cristã e islâmica
-, reivindicada por dois povos e habitada por quinze comunidades. A história
da Cidade Santa data de aproximadamente 3.000 anos atrás, quando o Rei
Davi fez dela a sua Capital.
Yerushalaïm: soa como murmúrio de folhas. No primeiro registro
conhecido, numa placa de argila datada de 25 séculos antes de Cristo,
letras cuneiformes abreviam-na para Salem. A próxima menção, Urushalim,
600 anos depois, foi encontrada em estátuas usadas por escribas egípcios
para amaldiçoar inimigos, provavelmente os hicsos, que invadiriam o vale
do Nilo.
Mais 500 anos e surge a terceira menção a Urushalim. Então, é um
pedido de socorro do rei cananeu Abbi Hepa ao faraó Akhenaton: os
jebuseus estavam chegando. E foram eles que Moisés e seu povo
encontrariam dois séculos depois, quando fugiam da escravidão no Egito.
Tão pequena, semidestruída, Jebus nem precisou ser conquistada. Foi,
simplesmente, ocupada.
Urushalim, também Rushalimum, nasceu regada pela fonte Gichon ou Jorro,
no cume de Ophel, a leste do vale de Kidron, que ainda hoje separa a
muralha de Jerusalém do monte das Oliveiras. A água jorrava por 30
minutos, secando por até 10 horas. Mas dava para saciar até 2.500
sedentos.
A raiz IRW encerra a idéia de `fundamento' ou 'estabelecimento' e SALEM
é a divindade cujo altar-sede estava na cidade. Em Gen. 14, 18 aparece
apenas SALEM; o salmo 76, 2 desdobra a palavra e temos SALEM e SIÃO. O
mesmo acontece no registro da carta 290 de Tell el-Amarna, onde se lê:
`SALIM ou SULMANU. O Gênesis apócrifo diz taxativamente: `Jerusalém é
Salém'.
O Novo Dicionário da Bíblia alinha a opinião de grandes autores sobre o
significado do nome de Jerusalém. Alguns estudiosos afirmam que a
primeira parte da palavra Jerusalém vem a ser `fundamento', enquanto que
`Salém' significa `paz', portanto, temos em Jerusalém ` cidade da paz'.
Renascida depois de 25 vezes destruições, Jerusalém é eterna. À flor
da terra santa, suas pedras brilham, douradas ao sol e prateadas ao luar.
Sedimentos de 50 séculos de fé e paixão testemunharam a criação do
primeiro homem, a morte e a ressurreição de Jesus, a epopéia dos
patriarcas Abraão, Isaac e David, e a cavalgada de Maomé aos céus.
Pedras de calcário dolomita consagradas por três civilizações. Os
judeus as veneram no Muro das Lamentações. Os muçulmanos as cultuam no
rochedo rachado pelo impulso da ascensão de Maomé no Domo da Rocha, a
Mesquita de Omar. E os católicos as reverenciam pela Via Dolorosa até o
Santo Sepulcro.
Na paisagem bíblica, surgem empilhadas, equilibradas, formando cercas. Os
arqueólogos as reviram. Judeus ortodoxos e palestinos as atiram, como
armas. E turistas as visitam. São muralhas, minaretes, sinagogas, igrejas
e mesquitas. Dão cor e identidade a Jerusalém. Encarnam Jeová, Cristo e
Maomé, petrificadas na Bíblia, no Talmude e no Alcorão, os guias
oficiais da Terra Santa.
A alma de Jerusalém está cercada por 4,5 quilômetros de muralhas
reerguidas em 1537 pelo sultão Suleiman, o Magnífico, no traçado
original do século II, ao tempo dos romanos. Muros nunca a limitaram. Nem
a protegeram.
Ao sabor dos conquistadores foram expandidos ou contraídos. Dentro,
apenas um quilômetro quadrado - o bastante para conter a história das
grandes religiões monoteístas. O judaísmo imperou de 1003 a.C. até o
ano 70 d.C., e depois se intercalaram o cristianismo (de 300 a 638, e de
1099 a 1187) e o islamismo (de 638 a 1099, e de 1187 a 1917). Hoje
convivem Maomé, Jeová e Cristo, mas o ar "é saturado com orações
e sonhos" como a fumaça nas cidades industriais. A poluição da fé:
"Difícil respirar" - diz o poeta israelense Yehuda Amichai.
Do Monte Scopus e do Monte das Oliveiras se tem a melhor vista da cidade
velha de Jerusalém, toda cercada por muralhas, como nas cidades
medievais. O Monte das Oliveiras já não faz mais juz ao nome. Poucas
oliveiras são vistas no local. Aquela área faz parte da Jerusalém
oriental, tomada dos árabes em 1967. Os camelôs do lugar fazem questão
de só falar árabe, sentem-se ofendidos se alguém falar em hebraico e
garantem que aquele território é palestino.
Do alto do Monte das Oliveiras vê-se o Vale do Cedron, onde na época de
Cristo era um lugar imundo, com muito lixo e para onde eram mandados os
leprosos. Vê-se uma das portas que dá acesso a Jerusalém, a Porta
Dourada, que atualmente está lacrada. Segundo a tradição judia, o
Messias irá entrar por aquela porta. Para impedir que isso aconteça, os
árabes a fecharam...
Aos pés do Monte das Oliveiras fica um cemitério judeu. Os judeus pagam
uma fortuna para serem enterrados naquele local, pois acreditam que quando
o Messias chegar, no Juízo Final, serão os primeiros a ressuscitarem.
Do Monte das Oliveiras vê-se em destaque, dentro da cidade velha de
Jerusalém, o Monte Moriah, com a Mesquita de Omar, também conhecida como
Domo da Rocha, com sua enorme cúpula dourada. O nome "Mesquita de
Omar" é incorreto. Na realidade, Omar Ibn AlKhattab, o segundo
califa, ao conquistar Jerusalém em 637, apenas identificou o local onde
Maomé tinha subido aos céus, segundo a tradição islâmica. Foi o
califa Abdel Malik Ibn Marwan, em 691, quem realmente construiu a
mesquita. Para isso, durante 7 anos ele mandou buscar tesouros egípcios
para pagar o ouro da cúpula dourada. A Mesquita de Omar continua sendo
uma das edificações mais belas em todo o mundo.
No Monte Moriah, segundo o Gêneses, Deus criou o primeiro homem. E Abraão
sacrificaria o filho Isaac, não fosse a intervenção de um anjo. Ainda
aqui o rei Salomão construiu o Templo de um império que se estenderia do
Eufrates ao Egito, em 1043 a.C., e do qual resta só a muralha ocidental,
conhecida como Muro das Lamentações.
O CONFLITO
Jerusalém, que deveria ser a Cidade da Paz, apresenta um conflito insolúvel.
Os judeus a fizeram sua capital, embora todos os países se façam
representar por suas embaixadas em Tel Aviv. O Conselho Nacional Palestino
- uma espécie de parlamento no exílio -, por sua vez, decretou, em 1988,
Jerusalém como AlQods, em árabe "A Santa", e capital de um
Estado palestino, que compreenderia a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Os
árabes têm em Jerusalém a Esplanada das Mesquitas, junto ao Muro das
Lamentações e temem que os judeus destruam aquele que é o terceiro
lugar mais santo do islã, para reconstruir um novo templo.
Além disso, há o mundo cristão, que tem em Jerusalém alguns dos seus
locais mais sagrados, como o Santo Sepulcro, a Capela da Ascensão, o
Monte e o Horto das Oliveiras e a Via Crucis. A internacionalização de
Jerusalém foi prevista pela ONU quando em 1947 fez a partilha da
Palestina, dividindo o país em território judeu e palestino. Os judeus
aceitaram a resolução da ONU, apesar das hostilidades do movimento
sionista, porém os países árabes a recusaram totalmente, declarando
guerra aos judeus.
Os judeus proclamam que a Terra Prometida lhes foi doada por Deus. Que
isto está registrado nas Sagradas Escrituras. Os árabes, por sua vez,
dizem que por causa da rebelião dos israelitas contra Moisés, durante a
saída do Egito, tiveram como castigo o sofrimento de 40 anos no de-serto
do Sinai e, por isso, não têm mais o direito sobre a Palestina.
O Corão é claro quando diz que "um dia toda a Palestina será dos
muçulmanos" (21: 106113). Convém lembrar o lema dos grupos
fundamentalistas islâmicos Hizbullah (Partido de Deus), no sul do Líbano,
e Hamás (Entusiasmo), em Israel: "A guerra continuará até que
Israel deixe de existir e até que o último judeu no mundo seja
eliminado".
Para que seja efetivamente implantada a paz entre israelenses e
palestinos, ambos os lados devem ceder um pouco. A ONU já tentou aplicar
a máxima do Rei Salomão, que sugeriu partir a criança em dois pedaços,
para solucionar a briga entre as duas mulheres que reclamavam o direito de
ser a verdadeira mãe. Israel acha que é a mãe verdadeira, que a Jerusalém
lhe pertence. Que, por isso, deve ficar "indivisível". Os islâmicos
reclamam a "criança" pelos mesmos motivos. E a solução final
parece estar cada vez mais distante, com nova rodada de sangue manchando o
solo da Terra Santa.
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